terça-feira, 14 de junho de 2011

Sindrome de Privação

Bem sei que fiquei de publicar as crónicas da minha viagem pelo sudeste asiático. Tudo o que não escrevi aqui tenho escrito no meu "Diário de Viagem" e quando tiver paciência irei transcreve-lo para o blog.
Mas o meu motivo de estar a escrever novamente é outro. Prende-se com o facto de sentir falta de viajar. Sentir falta de descobrir um mundo novo enquanto o sol passa por entre as árvores e me semi cerra os olhos, o vento desliza como um lenço de seda pela minha face e me faz esboçar um sorriso de felicidade. Felicidade pura, no seu estado mais simples e no entanto mais preenchido. Sinto falta de perder o olhar por horizontes verdes e montanhas que galopam a caminho das nuvens ao mesmo tempo que deixam esquecidos aos seus pés espelhos de água que reflectem tudo o que absorvem. Inundar os sentidos com algo que nunca tenha visto, cheirado ou sentido. Sou um aventureiro por natureza, venço os meus medos por necessidade. Não para me provar algo a mim próprio mas para me por à prova, para me conhecer, saber os meus limites, as minhas vontades e as minhas carências, o que eu gosto, adoro ou amo, o que eu não gosto, detesto ou odeio. E no entanto fica sempre algo por descobrir, tanto por descobrir, será que já descobri realmente algo? Não sei, como alguém já me disse sou um eterno insatisfeito. Nunca nada está bem como está, nunca nada está acabado, perfeito ou estável. Nunca nada está totalmente descoberto e quem o descobriu descobriu-o mal!
Tal como um adicto a qualquer outra substância que se tenta reabilitar tento manter-me longe das fontes. Evito sites de viagens, livros, fotos, ou até mesmo as newsletters que me inundam o email todos os dias. Tremo quando vejo algo que gostava de fazer e até sonho com isso. Obsessivo, faz-me feliz. São momentos de prazer momentâneos que me satisfazem na altura e duram uma vida inteira. São histórias para contar e memórias para recordar. São pedaços que acrescento a mim próprio, à minha alma e ao meu ego. Sou eu! Eu sou os neons das ruas de hong kong, sou os arrozais, o trânsito e os chapéus do Vietname, sou o frio da Suécia e a tempestade tropical em pleno mar cristalino da Tailândia, sou um relógio de fato londrino, sou uma movimentada rambla catalã, uma rua estreita e degradada de um bairro lisboeta, sou um deserto árido da Tunísia, uma praia rochosa da Croácia e um edifício imperial numa praça em plena Praga, sou um fim de tarde quente na costa alentejana... sou tudo isso e mais qualquer coisa. Tenho que descobrir tudo aquilo que faz parte de mim, ou pelo menos tentar. Como? Tenho a vida toda pela frente para me descobrir. Como tenho medo do que irei encontrar... eu vou!